Enxergar com os olhos de Jesus

Quando lemos os relatos das curas e prodígios que Jesus realizou, naturalmente nos voltamos para o milagre em si, o feito extraordinário realizado.

Não que isso não seja importante. Os milagres narrados no evangelho são uma afirmação incontestável da divindade de Jesus. Entretanto, há muito mais por traz do milagre. Há muitos outros elementos a serem considerados. O milagre é, por vezes, apenas uma moldura. A verdadeira obra é bem maior. É como que a soleira da porta que nos introduz no mistério.

É isso que acontece no evangelho de hoje, que nos conta a cura de Bartimeu, um cego mendigo. Muito provavelmente, a mendicância de Bartimeu se dava por causa de sua cegueira. Uma vez que a doença era sinal de desgraça na cultura judaica, os doentes ou os deficientes eram deixados à parte, abandonados até mesmo pela própria família.  Este era, certamente, também o caso de Bartimeu, que, apesar de ter um pai conhecido, Timeu, de ter uma família, vivia como mendigo.

Bartimeu, por sua deficiência era, então, sinônimo de má sorte, de maldição. Todos o desprezavam. Além da dificuldade física, lhe era imposto ainda um jugo religioso muito pior que própria cegueira, fruto de olhares mesquinhos, olhares que não enxergavam a realidade com os olhos de Deus. Fruto da cegueira espiritual, a pior de todas.

Nesta condição, de homem impedido de viver plenamente, de quem é deixado à margem do caminho, de quem está prostrado sob o peso da condenação dos outros, Bartimeu tem a chance de se encontrar com a luz. Soube que Jesus ia passar.

Imagine! Jesus passa. À beira do caminho, o cego grita: “Filho de Davi, tem piedade de mim!” É um grito de socorro, de angustia profunda de quem vivia na escuridão.

Jesus, então, para seu caminho, pois para ele nenhum grito passava despercebido. Quebra as barreiras, chama para perto um homem a quem todos queriam longe. Sim! O Deus de Jesus não é distante, não renega, não oprime. É um Deus que chama e faz o ser humano mergulhar no desejo mais profundo de seu coração. Por isso, a  pergunta de Jesus: “Que queres que te faça?”

“Mestre, que eu veja!” E de fato, é isto que Jesus faz por ele: “Vai, a tua fé te curou.” A fé o curou de tal forma, que mais do que a cura física, aconteceu aquela cura de quem se encontra com Jesus, de quem não consegue andar em outros caminhos, se não, na companhia de Jesus.

Esta foi a verdadeira cura de Bartimeu: seguir Jesus. Neste caminho, Jesus certamente foi lhe emprestando seus olhos para enxergar a vida, as pessoas, a realidade e até mesmo o próprio Deus. Aliás, colocar-se a seguir Jesus, nada mais é do que buscar enxergar com os olhos dele.

Oxalá, nossas cegueiras fiquem para traz e possamos também nós, a partir deste encontro, no seguimento do mestre, passarmos a enxergar a vida com os olhos de Jesus.

30º Domingo Comum – Ano B – Mc 10, 46-52

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